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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Ha 2000 anos

O presente artigo visa uma reflexão sobre uma questão que tem me alertado recentemente: A relação entre o mundo moderno e o antigo. Nesse sentido, partindo de discussões sobre a importância do desprezo da vida humana no mundo contemporâneo pretendo destacar como as práticas corporais da Antigüidade, em especial as lutas de gladiadores, podem fornecer subsídios a uma analogia entre o comportamento humano da antiguidade e a atual .
As chamadas Arenas eram os grandes circos onde se realizavam espetáculos sangrentos com escravos condenados à morte e prisioneiros de guerra, que eram jogados nas arenas desarmados para lutar contra feras, ou combatendo aos pares até a morte. Os gladiadores eram atletas preparados que lutavam em equipe. As mortes e lutas na arena eram instrumentos do poder político, simbolizando o poderio de Roma para a plebe. Tudo isto acompanhado de uma platéia sedenta de sangue que vibrava e aplaudia a cada queda para a morte de um dos condenados. Conta-se que foi em 264 a.C realizado o primeiro combate de gladiadores na cidade de Roma em memória do falecido Iumius Brutos, embora tal episódio tenha sido registrado por Tito Livio e teve seu final com o código Teodosiano de 438 d.C.
         Pois bem, 1573 anos após o final das lutas nas fatídicas arenas, nos deparamos com fatos semelhantes estampados nos jornais e seguidamente exibido nos tele-jornais. O acontecimento que me deixou estupefato ocorreu em uma das ruas da zona norte do Rio de Janeiro. Um jovem que acabara de cometer um crime e se vendo na possibilidade de ser preso, pegou como refém uma jovem pelas costas e a ameaçava com uma granada sendo seguido por policiais que tentavam dissuadir-lo. Em determinado momento um oficial franco atirador desfecha um tiro certeiro na cabeça do rapaz que cai morto ao solo. A moça saiu ilesa do episódio, graças a Deus. Não colocarei em questão a operação da Policia Militar, não é o caso nesse momento, mas sim o que se sucedeu após a queda do rapaz já sem vida. Esse triste episódio era acompanhado por dezenas de pessoas que aguardavam de forma sedenta de sangue o desfecho daquela situação. Outra forma não se poderia dar a lastimável ocorrência a não ser a morte lamentável de um jovem, com mãe, pai, talvez filhos, parentes. Um rapaz equivocado em suas ações e que necessitava do amparo, amor e compreensão dos mais esclarecidos a demovê-lo de suas más tendências, assim como fizeram conosco em outras épocas. Mas não, o condenaram, o mataram e o mais triste, os espectadores que ali se concentravam aplaudiram e vibraram com a morte prematura daquele ser humano.
         Retrocedi imediatamente no tempo, voltei às galerias dos coliseus onde aplaudíamos as mortes injustificadas, regozijávamos do sofrimento alheio e nos tornávamos cúmplices das lamentáveis quedas morais dos vencedores e mandatários.
         Hoje pouca coisa mudou, continuamos quase os mesmo, nossas más tendências inclinadas para o egoísmo e a prepotência continuam as mesmas, nos consideramos acima do bem e do mal. Por quê? Porque só enxergamos no próximo aquilo que ainda persiste de ruim em nós, más tendências mal resolvidas. Custamos ver o bem nas pessoas porque temos dificuldades de sermos bons.
Vamos reflexionar a respeito de tais episódios que nos pegam de surpresa e num rápido instante de invigilância nos direciona para o que realmente ainda somos. Analisemos. Quantos de nós podemos afirmar que jamais cometeremos atos ilícitos. Quantos de nós temos a consciência livre dos remorsos oriundos dos erros cometidos contra nossos irmãos. Lembre-se que esta é apenas uma de várias existências. Quantas vezes já imploramos pelo perdão as nossas vitimas, quando despertando do torpor do desencarne nos deparamos com eles nos cobrando os males que os impusemos. Quantas suplicas ainda serão necessárias para nos ver livres dos sofrimentos impostos pela nossa consciência. Será que julgando e condenando agora, obteremos o perdão mais adiante? Lembremo-nos das palavras de Jesus quando nos chamou de hipócritas ao insistirmos em tirar um cisco do olho de nosso irmão quando tínhamos uma trave nos nossos. Lembremo-nos que Jesus nunca condenou a quem quer que fosse apenas os orientava a seguir e não pecar mais.
Sejamos vigilantes com nossos pensamentos, vamos praticar no dia a dia a difícil arte de sermos caridosos e benevolentes, pois “somos o que pensamos” e quando chamados pelas nossas consciências em decorrer da morte do corpo, seremos cobrados da mesma forma que cobramos. “pai perdoai as nossas ofensas da mesma forma que perdoamos aqueles que nos há ofendido”.

Um comentário:

  1. Oi Antônio Carlos.
    Obrigada pelo convite de conhecer seu blog. Parabéns, ele é realmente ótimo.
    Lendo esse artigo me lembrei de um episódio que aconteceu hoje, no qual presenciei. Estava eu na Praça Onze e me deparei com a seguinte cena: Um policial pegou um rapaz, logo a seguir chegou um guarda municipal, o algemaram e levaram para a viatura policial. Nesse trajeto formou-se uma agloreração ao redor do suposto ladrão e os agentes públicos. As pessoas pareciam-me inquietas, um senhor falava muito alto, e com raiva, com o infeliz rapaz. Um outro cidadão passou perto de mim conversando com um outro e dizia: "Tem que cortar as mãos dele!".
    É, Antônio, o ódio está pairando, parece que o povo como na antiguidade quer fazer justiça com as próprias mãos, a tal da lei: "Olho por olho, dente por dente"
    Urge a necessidade de voltarmos nossos corações aos ensinamentos de Jesus, para que possamos enxergar por detrás dos equívocos alheios que somos todos irmãos. PAZ e LUZ! Abs,

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